Charlie Schreiner | Daguerreótipos | 2002 e 2003
quinta-feira, fevereiro 24
terça-feira, fevereiro 22
Erik Satie 1866-1925
musicologie.org | La Première Gymnopédie
Katsuhiro Oguri | Gymnopédie 1, Lent et douloureux
Do not sleep, sleeping beauty. Listen to the voice of your Truelove. He skips a rigadoon. He loves you so.
He is a poet. Can you hear him? Is he just sniggering? No, he adores you sweet Beauty! He skips another rigadoon and catches a cold. Don't you want to love him? He is a poet, though, an old poet!
*
I had a dog once who secretly smoked all my cigars. It made him ill in his tummy. And that upset his Daddy terribly.
*
Advise yourself most carefully.
Gird yourself with perceptiveness. Alone, for a moment. So as to make a hollow. Very lost. Carry that further. Open your head.
Bury the sound.
*
The lapping of water in a river bed.
A fish comes, then another,
then two more.
-What is it?
-It's a fisherman, a poor fisherman.
-Thank you.
Everyone goes home,
including the fisherman.
The lapping of water in a river bed.
*
He hums a XVth century air. Then, he pays himself a nicely fitting compliment. Who will dare to say he is not the most handsome? His heart is tender, is it not? He puts is arm around his waist. He finds it quite ravishing. What will the pretty marchioness say? She will struggle, but be overcome. Yes, Madam. Is it not written thus?
Erik Satie | Tradução de Antony Melville | Archives de la Fondation Erik Satie
domingo, fevereiro 20
sábado, fevereiro 19
quinta-feira, fevereiro 17
Música para Spofforth
Rabih Abou-Khalil | Morton's Foot | 2004
Nils Petter Molvaer | Khmer | 1997
Anouar Brahem Trio | Astrakan Café | 2000
elasticidade
Don DeLillo
Os Nomes
terça-feira, fevereiro 15
sábado, fevereiro 12
sexta-feira, fevereiro 11
Urk
Compreende-se, quase se adivinha que as terras de Urk apenas anteontem se tenham unido ao continente. As mulheres mantêm nos olhos a doçura e a melancólica apreensão, contidos numa face austera, linhas desenhadas nas eternidades. Corpos elevados e robustos, de trabalhos pouco partilhados porque o mar lhes roubou diariamente os músculos que o deus ofereceu a algumas noutras partes do mundo. Aqui ofereceu-lhes os delas.
Urk | 2004
quarta-feira, fevereiro 9
domingo, fevereiro 6
Lembro-me vagamente
sábado, fevereiro 5
Ptolomeu, Copérnico ou Galileu erraram, e quão perto estiveram eles da verdade? Confiram-se Woody Allen, Henry Miller, Sade, Man Ray, Helmut Newton, Almodovar, Roth, Cabrera Infante, Sérgio Godinho, Baudelaire, Townes Van Zandt... Estes, a exemplo, conheceram e partilharam o dogma do único modelo cosmológico.
Hans van der Pol
sexta-feira, fevereiro 4
Old Demotic
Balthus | La rue | 1933-35
Chovem canivetes abertos.
Não é a primeira vez que chovem canivetes, em Old Demotic. Ninguém liga, apesar dos esgares de enfado.
Já choveram todo o tipo de coisas. Os velhos lembram-se de se terem esquecido daquele ano longínquo em que choveram mulheres. Conta-se a alegria que foi: as poucas que não morreram, amparadas pelos toldos das lojas ou absorvidas pelas águas do rio passaram a integrar a pacata comunidade. Não foi fácil porque eram especialmente belas e muitos casamentos fossilizados começaram a exibir brechas estruturais. Mas desta vez chovem canivetes abertos.
As estradas animam-se de faíscas ao contacto com as lâminas. Não é que tenha morrido muita gente; numa terra como esta as pessoas habituam-se a caminhar debaixo das protecções que as casas oferecem por imposição autárquica. Os estragos materiais, esses sim, foram imensos: automóveis, semáforos, uma instalação de esculturas em papel e plasticina no recreio da escola. Arruinados.
Naquela noite, como em todas as que se sucedem aos dias em que chovem coisas pesadas, haverá reunião popular espontânea. Discursarão os mesmos de sempre: os invejosos, o ridículo, os avarentos, os advogados, o ingénuo e o padre. As reuniões da chuva foram sempre um bom terreno para aprofundar conhecimentos, iniciar relações, romper ou propor negócios mirabolantes. Raramente se decide o que quer que seja sobre o produto acumulado daquilo que cai dos céus. Old Demotic possui, a cercá-la, uma vasta cordilheira de resíduos; alguns valiosíssimos, como quando choveram anéis da Opus Dei, outros (a maior parte) o autêntico refugo dos deuses.
Frank, o radialista, passou o dia suspeitoso. Pouco falou a entremear as longas e enfadonhas peças de rock progressivo que insiste em difundir pelos lares e lojas daquela terra. Frank cogita, há já várias horas que se distingue claramente a 'ruga do intrigado', a circunvolução que lhe une as poderosas sobrancelhas como a estrutura de uns óculos de que nunca precisará porque, como diremos, o fim está próximo. Não compreende porque raios os canivetes abertos caem com a lâmina para baixo, se o corpo do objecto onde a mesma se recolhe é incomparavelmente mais pesado.
Frank ainda não sabe, a comunidade muito menos, mas o fim está próximo. Deus começa a perder as estribeiras. Depois de anos, séculos a pilheriar Old Demotic, prepara-se para ignorar todos os mais básicos princípios da decência, que é o que chamamos por ser o que acontece quando as leis da lógica de um povo são subvertidas.
Com um forte abraço de respeito e saudades aos amigos Balthus, Italo Calvino e a Joshua Brand e John Falsey, criadores de "Northern Exposure".
quinta-feira, fevereiro 3
Inner Self #3
Naoki Mitsuse
Não sei onde foste buscar essa técnica mas a suspensão é perfeita. Espanto-me se te vejo mais leve do que o ar, se frustras Newton com um encolher de ombros mas sem o sorriso da carmelita contemplativa de olhar vago e místico. E eu plúmbeo, bizarro e febril, um deus do desamparo. Nem os pés abdicam entre passos de sentirem o chão que pisam, quanto mais a cabeça. Sou um breakdancer em eterno swing craneano; sem estrado, gorro ou boné. As ideias e o escalpe em ferida aberta, rastos de seiva e sangue rua abaixo. Tu, albatroz, existes como as nuvens, deixas cair uma lágrima e choves sem querer.