quarta-feira, junho 29


Viner | Nine to Fiver

terça-feira, junho 28

Giants Shoulders

No fundo queremos ser um piano, dizia ele, não queremos ser gente, queremos ser antes um piano, durante toda a vida queremos ser um piano e não uma pessoa, fugimos ao homem que somos para nos transformarmos completamente em piano, o que não nos é possível apesar de não acreditarmos nisso, assim dizia ele. O intérprete ideal de piano (ele nunca dizia pianista!) é o que quer ser um piano, e eu todos os dias digo para mim mesmo, quando acordo: quero ser o Steinway, não quero ser o homem que toca o Steinway, quero ser o próprio Steinway. Aproximamo-nos muitas vezes deste ideal, dizia ele, ficamos mesmo muito perto quando julgamos ter já enlouquecido, quando estamos mesmo à beira da loucura, a coisa que mais nos aterroriza. O Glenn quisera, durante toda a vida, ser o próprio Steinway, odiava a ideia de se situar entre Bach e o Steinway apenas como mediador da música, e de ficar um dia triturado entre Bach e o Steinway, um dia, assim dizia ele, ainda vou ficar triturado entre Bach de um lado e o Steinway do outro, dizia ele, pensei eu. Durante toda a vida tenho tido medo de ficar triturado entre Bach e o Steinway, e tenho que fazer um esforço enorme para afastar de mim esse pavor, dizia ele. O ideal seria que eu fosse o Steinway e não tivesse necessidade do Glenn Gould, dizia ele, sendo o Steinway poderia tornar o Glenn Gould inteiramente desnecessário.


(...)


Não há nada mais pavoroso do que ver uma pessoa tão grandiosa que a sua grandiosidade nos destrói, e nós somos os espectadores e as vítimas desse processo, e acabamos afinal por ter de o aceitar, conquanto não acreditemos efectivamente num processo assim, não acreditemos durante muito tempo ainda até que, por fim, ele se torna para nós um facto irremediável, pensei eu, quando já é para nós demasiado tarde.


(...)


Ou nós nos entregamos à música totalmente, ou então mais vale renunciar a ela, dissera o Glenn muitas vezes, mesmo ao Horowitz. Mas só ele sabia o que isso queria dizer, pensei eu.


(...)


Mal o Glenn havia tocado meia dúzia de compassos já o Wertheimer pensara em desistir, lembro-me perfeitamente, o Wertheimer tinha entrado na sala do primeiro andar do Mozarteum que havia sido reservada para o Horowitz e escutou e viu Glenn, ficou imóvel à porta, sem ser capaz de se sentar durante todo o tempo em que o Glenn esteve a tocar, só depois do Glenn ter parado de tocar é que o Wertheimer se sentou, tinha os olhos fechados, estou a ver isso ainda perfeitamente, pensei, ele não disse nem mais uma palavra. Usando uma expressão patética posso dizer que aquilo foi o fim, o fim da carreira de virtuoso do Wertheimer. Estudamos durante dez anos um instrumento que nós próprios escolhemos e, ao cabo dessa década de intenso trabalho, dessa década mais ou menos deprimente, ouvimos meia dúzia de compassos tocados por um génio e ficamos liquidados, pensei eu.



Thomas Bernhard
O Náufrago

segunda-feira, junho 20

Está uma cara na rocha:


Monsanto | 2005

quinta-feira, junho 9


Zahng Yimou | Hero | 2003

Martirização



Andam a pensar e a sonhar e a escrever sobre a terrificação de Marte... Ao fim da tarde, sair de um edifício com ar-condicionado e entrar na rua é uma experiência muito óbvia: estamos em plena martirização da Terra.

quarta-feira, junho 8

Murgudjador


Santo Antão | Cabo Verde | 2003

segunda-feira, junho 6

Giant sound

Estes concertos de fim de fim-de-semana, em sala aconchegada, são muito porreiros. No de ontem apareceram uns Giant Sand cansados do 'sábado na mouraria'. Country rock que balança entre raízes do sudoeste americano, com a lap steel guitar a pontuar a coisa e a desconstrução garage a lembrar que ouvimos uma geração ruidosa mas que ainda usou intrumentos verdadeiros. Mr. Gelb sabe-a toda: bocejou, riu-se, fundiu descaradamente Lou Reed com Neil Young, bocejou outra vez, usou os microfones todos, os pedais e as guitarras, o chapéuzito de palha, a harmónica à la Dylan, martelou o piano, desmaiou-lhe o som, armou uns pizzicatos manhosos dentro da grande caixa. Do alto de uma figura vagamente zappiana evocou distantes planícies em chamas, viagens de fim de tarde entre terreolas perdidas por baixo de céus em que se vêem as constelações todas. Um som gigante, juro.

sábado, junho 4

Update

Afinal, começaram hoje as 40 Horas Non-Stop. Nem me lembrei que era neste fim-de-semana. Esteve-se bem, na relva. Marilyns, mimos e pantomineiros a rodos. Famílias felizes. A Mingus Big Band na afinação. Balões e chapéus hiterico-festivos. Vista de longe, a grande pá parece cavar (cultivar) gente, uma enorme metáfora vermelha. Hoje e amanhã é mesmo para ser assim. Volto já, vou lá rever que tal.


Claire Lunar | Pale Blue Dot | árvores dos jardins de Serralves e da Casa das Artes | Fevereiro 2005

Exclusivo TVI

Vou estudar para Serralves, onde "desculpe mas não pode estudar".
Vou barricar-me: algemas num pé de mesa e livro no sovaco (Paulo Subtil 2.0). Serralves também tem o pior da Cultura Para Todos: os jovens, as namoradas dos jovens e os risos deles, hordas de telemóveis polifónicos, constantes visitas de estudo em autocarros cheios de borbulhas que não estão minimamente interessadas nas árvores, exposições ou na grande pá do jardim, só esperam que o tempo passe, almoços mais ou menos económicos, música pálida que deixa de se ouvir como o pêndulo de um antigo relógio de sala. E, no entanto, vou estudar para Serralves. Se não regressar, chamem a TVI. É o meu sonho.

rodapé: Rapaz protesta mas não tem razão | Esquilo salva família na Arrábida | Camiõm abalroa

sexta-feira, junho 3

Reparem: temos um motor lixado.

quinta-feira, junho 2

I hear you! (#2) Câmbio.

Cumprindo a pré-época para a silly season; continuamos
a saga du questionário!
(lerrr frase anterior com eco mental e prronúncia brrrasiléira dji comentádorrr dji programa fantásticu):


1. total music volume in my computer:
Townes Van Zandt: For the Sake of the Song
2. the last cd's i bought:
Giant Sand: Selections Circa 1990/2000
Neutral Milk Hotel: In the Aeroplane Over the Sea
Richard & Linda Thompson: I Want to See the Bright Light Tonight
Love: Forever Changes
Phil Ochs: There and Now - Live in Vancouver 1968
Virginia Astley: From Gardens Where We Feel Secure
Hector Zazou: Sahara Blue
Animal Collective: Sung Tongs
Silver Jews: American Water

3. song playing right now:
Traffic: Glad/Freedom Rider
4. five [or seven] songs i listen to a lot lately, or that mean a lot to me:
Led Zeppelin: Since I've Been Loving You
Zappa: Joe's Garage
Supertramp: Aubade and I am Not Like Other Birds of Prey
Lou Reed: Magician
Pink Floyd: Echoes / Time
Gentle Giant: The Moon Is Down

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