As cidades subtis. 4.
A cidade de Sofrónia compõe-se de duas meias cidades. Numa fica a grande montanha russa de íngremes bossas, o carrocel com a sua auréola de correntes, a roda das gaiolas giratórias, o poço da morte com os motociclistas de cabeça para baixo, a cúpula do circo com o cacho dos trapézios a pender no meio. A outra meia cidade é de pedra e mármore e cimento, com o banco, os opiários, os prédios, o matadouro, a escola e tudo o resto. Uma das meias cidades está fixa, a outra é provisória e quando acaba o tempo da sua estadia despregam-na, desmontam-na e levam-na dali para fora, para a enxertar nos terrenos vagos de outra meia cidade.
Assim todos os anos chega o dia em que os operários destacam os frontões de mármore, deitam abaixo as paredes de pedra, os pilares de cimento, desmontam o ministério, o monumento, as docas, a refinaria de petróleo, o hospital, e carregam-nos em reboques de grandes camiões para seguirem de praça em praça o itinerário de todos os anos. Aqui fica a meia Sofrónia das barracas de tiro ao alvo e dos carroceis, com o grito suspenso da naveta da montanha russa do avesso, e começa a contar quantos meses, quantos dias deverá aguardar antes que retorne a caravana e recomece a vida inteira.
Italo Calvino
As Cidades Invisíveis
7 daguerreótipos:
São realmente maravilhosas as cidades do Italo Calvino... Eu também sou uma fã confessa ;-)
São uma delícia, J.
Como se não nos bastasse este mundo, ainda nos falta conhecer aquele...
E agora lembrei-me das "Ruinas Circulares", do J.L.Borges. Conheces? Qualquer dia posto-as.
Conheço sim senhor, encontrei-me com as «Ficções» há já alguns anos, mas por acaso gostava de relê-las. Tens mesmo de postá-las para ver se é desta ;-)
beginning to see the light. :)
lindo e luminoso, esse livro.
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Não sei muito bem com o é que fiz isto... mas apaguei um comentário que deixei aqui...
Bendito copy/paste:
Esse livro teve um triste destino, juntamente com outros tantos... roubaram-mos de casa! Um dos momentos mais desesperantes da minha vida, devo dizer...
Engraçado como não só essas ruínas são circulares... Claire Lunar, aproveito este agradável poiso alheio para dizer que gosto muito do teu blog ;-)
Eu também gosto muito do blog dela. Aliás, miss claire foi uma das responsáveis pelas minhas bloguices. Bai da uei; o teu também tem que se lhe diga...! (adoro esta expressão)
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