Eu nunca tinha conhecido ninguém com um espírito de observação mais agudo e uma maior riqueza de pensamento. Só que o Paul deitava continuamente pela janela fora a sua riqueza de pensamento, exactamente como fazia com a sua riqueza monetária, mas, ao passo que esta riqueza monetária em breve tinha sido deitada definitivamente pela janela fora e se havia esgotado, a sua riqueza de pensamento era realmente inesgotável; ele deitava-a continuamente pela janela fora e ela multiplicava-se (simultaneamente) de forma contínua, quanto maior era o quinhão da sua riqueza de pensamento que ele deitava pela janela fora (da sua cabeça), mais essa riqueza aumentava; é uma característica das pessoas que primeiro são doidas e por fim qualificadas de dementes o facto de deitarem pela janela fora (da sua cabeça) cada vez mais e sempre de forma contínua a sua riqueza mental e simultaneamente na sua cabeça essa sua riqueza mental se multiplicar com a mesma velocidade com que elas a deitam pela janela fora (da sua cabeça) e ela vai sendo, na sua cabeça, cada vez mais e tornando-se naturalmente cada vez mais ameaçadora e por fim já não é suficiente o deitar fora (da sua cabeça) a sua riqueza mental que nela se vai incessantemente multiplicando e acumulando, acabando por explodir. Assim explodiu muito simplesmente a cabeça do Paul, porque ele já não conseguia deitar fora (da sua cabeça) na medida suficiente a sua riqueza mental.
Thomas Bernhard
O Sobrinho de Wittgenstein
0 daguerreótipos:
Enviar um comentário
<< Home