Spleen LXXVI
Memórias tenho mais que se tivesse mil anos.
Um armário com as gavetas cheias de balanços,
De versos, bilhetinhos, processos, romanzas,
E enroladas madeixas dentro dos recibos,
Esconde menos segredos do que o meu cérebro triste.
É como uma pirâmide, um imenso jazigo
Encerrando mais mortos que a vala comum.
- Eu sou um cemitério que a lua abomina
E onde os vermes rastejam, tais como remorsos,
Sôfregos devorando os meus mais queridos mortos.
Sou um velho toucador cheio de coisas mirradas,
Onde jazem os restos de modas passadas
E onde os pastéis, gemendo, e os Boucher, tão pálidos,
Respiram, sós, o odor de um frasco destapado.
Nada iguala a extensão dos longos dias mancos
Quando o tédio, esse fruto da incuriosidade,
Sob os pesados flocos da neve dos anos,
Atinge as proporções da imortalidade.
- Ó matéria tão viva! és apenas agora
Um granito envolvido por vago pavor,
Dormitando no fundo de um Sara brumoso;
Velha esfinge que o mundo, negligente ignora
Já esquecida no mapa, e cujo estranho humor
Canta apenas aos raios do sol que se põe.
Charles Baudelaire
As Flores do Mal
4 daguerreótipos:
«Memórias tenho mais que se tivesse mil anos.
(...)
Nada iguala a extensão dos longos dias mancos
Quando o tédio, esse fruto da incuriosidade,
(...)»
tem de ser, tenho de deixar de lado esse preconceito de querer ler Baudelaire e Rimbaud em Francês, nunca mais consigo tempo para chegar a essa língua ao nível da poesia, terá de ser em português e pelo que já me disseram o Flores do Mal está benzinho (para tradução de poesia...)
Na Assírio está mais do que benzinho; está bilingue.
nem eu pensaria em comprar uma tradução que não tivesse o original! (até com a poesia traduzida do Inglês eu quero -exijo- as edições bilingues)
; )
UI, UI!.....o mal deste país....
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