Monsanto | 2005
quinta-feira, abril 28
terça-feira, abril 26
domingo, abril 24
I hear you! Câmbio.
O Hotel Branco, D.M. Thomas
Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
Settembrini (A Montanha Mágica, Thomas Mann)
Mickey Sabbath (O Teatro de Sabbath, Phillip Roth)
Spofforth (Ave-do-Arremedo, Walter Tevis)
o pianocktail e os nenúfares d'A Espuma dos Dias (Boris Vian)
as de Margarita e o Mestre (Mikhail Bulgakov)
Qual foi o último livro que compraste?
Isidore Ducasse, Os Cantos de Maldoror
Thomas Bernhard, O Sobrinho de Wittgenstein
Octavia E. Butler, Madrugada | Ritos de Maioridade
Qual o último livro que leste?
Samuel Beckett, O Inominável | Murphy
Que livros estás a ler?
Eça de Queirós, A Relíquia
José Alberto Oliveira, Bestiário (para a frente e para trás, há praí trezentos anos)
Thomas Nagel, A Última Palavra
Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Guillermo Cabrera Infante, Havana para um Infante Defunto
Cervantes, D. Quixote de la Mancha
Walt Whitman, Folhas de Erva
Baudelaire, As Flores do Mal
Samuel Beckett, Molloy
Walter Tevis, A Ave-do-Arremedo (este seria perfeitamente aldrabável, no boné)
A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Ao Luís; ao knuque; ao FDV e à ange (são três, não são?)
Por curiosidade.
quinta-feira, abril 21
Está um dia lindo. Chove frio e nevoeiro. Vou andar de boca aberta: de espanto, para me limpar por dentro e para me fazer de tolo. Assim ninguém me chateia.
terça-feira, abril 19
terça-feira, abril 12
Spofforth

Shotaro Shimomura
Depois sente nas costas nuas os cabelos dela e, com o corpo já a começar a inclinar-se-lhe para diante, sente-lhe a boca encostada às costas, a beijá-las ao de leve... sente-lhe o hálito suave e morno de mulher. Abre os braços, um para cada lado. E cai.
Walter Tevis | Ave-do-Arremedo (Mockingbird) | 1980
domingo, abril 10

Harmenszoon van Rijn Rembrandt | The Anatomy Lesson of Dr. Tulp |
Oil on canvas; 169,5 x 216,5 cm | 1632 |
Mauritshuis, Den Haag
quinta-feira, abril 7
The sun shone, having no alternative, on the nothing new.
Samuel Beckett | (primeira frase de) Murphy | 1938
terça-feira, abril 5
Morreu Maria, na noite do dia em que a manhã choveu desde madrugada, ao recusar-se continuar para um bando de bêbados inúteis com histórias de abandonos, arritmias e filhos retalhados por dentro. Quanto mais sabotava a música melhor lhe saíam as dores; a banda calou-se, pareceu ficar um sax, tímido, como eco dos seus murmúrios, mas não havia sax nenhum, era ela que abafava o lamento arrancando cabelo atrás de cabelo. Stormy Weather, Maria.
Maria do post de baixo oferecia opulentas formas de mulher ao mundo, quase tudo no sítio. Procurava amor, mas um pouco de sexo já não seria mau. Os homens pediam-lhe longos orgasmos na forma dos blues do Delta. «O delta!», estremecia (o delta estremecia-lhe) Maria. Que cruz, a tua voz.
Maria, quando cantava, cantava bem. Quando cantava, fazia calor. Mas ela nem sempre cantava, para desespero de quem tremia ao morrer.
domingo, abril 3
Nunca estive noutro lugar senão aqui, nunca ninguém me tirou daqui. Basta de me armar em criança que de tanto ouvir dizer que foi uma cegonha que a trouxe, acaba por se lembrar do campanário onde essa cegonha fazia ninho e do tipo de vida que aí levava antes de vir ao mundo. Não falarei mais de corpos e de trajectórias, do céu e da terra, não sei o que isso é. Eles disseram-me, explicaram-me, descreveram-me como é isso tudo, e para que serve, mil e uma vezes, uns a seguir aos outros, com as intenções mais variadas, numa unanimidade absoluta, até eu parecer que estava de facto a par. Quem diria, ao ouvir-me, que nunca vi nada, nunca ouvi nada a não ser as suas vozes? (...) Chegou a minha vez de fingir que estou morto, a mim que eles não souberam fazer nascer, e a carapaça de monstro que me envolve apodrecerá. Mas é totalmente uma questão de voz, qualquer outra metáfora é imprópria.
Samuel Beckett | O Inominável | 1949 / Nan Goldin | Anthony By The Sea | 1979
sábado, abril 2
Estão aqui:
Douglas Spalding, 12 anos, tenta convencer "o bom do Senhor Sanderson", dono da sapataria da terra, a vender-lhe um par de ténis "Royal Crown Cream-Sponge para Litefoot - Nos teus pés, são como mentol!".
-Eu dou-lhe o dinheiro que tenho, o senhor dá-me os sapatos e eu fico a dever-lhe um dólar. Mas, Sr. Sanderson, mas... o senhor sabe o que vai acontecer assim que eu tiver esses sapatos nos pés?
-O que é?
-Bum! Vou entregar embrulhos, vou buscar embrulhos, vou buscar café para o senhor, queimo-lhe o lixo, vou ao correio, vou ao telégrafo, vou à biblioteca! O senhor vai ver doze como eu a entrar e a saír, a entrar e a saír a toda a hora. Está a sentir esses sapatos, Sr. Sanderson, está a sentir a rapidez que eles me vão dar? Com essas molas todas que têm? Está a sentir as correrias que eles têm lá dentro? Está a sentir como eles se agarram a uma pessoa e não a largam e não a querem parada? Está a sentir a rapidez com que eu vou fazer as coisas com que o senhor não se quer maçar? O senhor fica aqui na loja ao fresquinho e eu vou andar a correr por essa cidade! Mas não sou eu, são os sapatos. A correr como doidos por essas avenidas, a virar esquinas e a voltar para aqui! Lá vão eles! (...)
-Ó rapaz - disse por fim o Sr. Sanderson -, tu gostavas de ter aqui emprego, daqui a cinco anos, para vender sapatos?
-Ah, muito obrigado, Sr. Sanderson, mas eu ainda não sei o que vou ser...
Ray Bradbury | A Cidade Fantástica | (Dandelion Wine)