domingo, janeiro 30
sexta-feira, janeiro 28
Que grande nome de blog!
terça-feira, janeiro 25
Digo-lhe para olhar menos para o rosto das pessoas se não os entende e mais para as coisas, tal como eu, quando cheguei à América, contemplava os anúncios de néon e deduzia que tipo de país era. Tiro os cigarros do bolso, «vês», digo-lhe, «estes são os cigarros produzidos em Sarajevo, e tu sabes porque é que a caixa é completamente branca?», ele diz que não com a cabeça, «é branca porque já não existe nenhum lugar onde se possam imprimir os rótulos para as caixas. Tu agora vais concluir que nós somos coitados e infelizes porque nem sequer podemos ter nada escrito nos nossos maços de tabaco, concluirás isto porque não sabes olhar.» Começo a desmanchar a caixa, sei que por dentro não é branca, que pode ser o invólucro de sabonete para crianças virado do avesso, uma parte de um cartaz de uma sessão cinematográfica, uma parte de um anúncio de sapatos. Também sinto curiosidade com o que está lá dentro, vejo-o e sempre me surpreendo, e o americano está igualmente curioso, embora não faça a mínima ideia do que estou a fazer. Desmanchei assim a caixa e quase caí redondo. Lá dentro reluzia o invólucro de Marlboro, aquele velho Marlboro Sarajevo, o americano abriu a boca, eu soltei um palavrão, não sabia que dizer mais.
Miljenko Jergovic
Marlboro Sarajevo
segunda-feira, janeiro 24
domingo, janeiro 23
sábado, janeiro 22
Criaturas do olvido
sexta-feira, janeiro 21
quinta-feira, janeiro 20
Prescrição
quarta-feira, janeiro 19
terça-feira, janeiro 18
Spleen LXXVI
Memórias tenho mais que se tivesse mil anos.
Um armário com as gavetas cheias de balanços,
De versos, bilhetinhos, processos, romanzas,
E enroladas madeixas dentro dos recibos,
Esconde menos segredos do que o meu cérebro triste.
É como uma pirâmide, um imenso jazigo
Encerrando mais mortos que a vala comum.
- Eu sou um cemitério que a lua abomina
E onde os vermes rastejam, tais como remorsos,
Sôfregos devorando os meus mais queridos mortos.
Sou um velho toucador cheio de coisas mirradas,
Onde jazem os restos de modas passadas
E onde os pastéis, gemendo, e os Boucher, tão pálidos,
Respiram, sós, o odor de um frasco destapado.
Nada iguala a extensão dos longos dias mancos
Quando o tédio, esse fruto da incuriosidade,
Sob os pesados flocos da neve dos anos,
Atinge as proporções da imortalidade.
- Ó matéria tão viva! és apenas agora
Um granito envolvido por vago pavor,
Dormitando no fundo de um Sara brumoso;
Velha esfinge que o mundo, negligente ignora
Já esquecida no mapa, e cujo estranho humor
Canta apenas aos raios do sol que se põe.
Charles Baudelaire
As Flores do Mal
domingo, janeiro 16
data files: Titan#3
Montanhas, falésias, a linha de costa, o mar, calmo e denso, pequenas praias, barcos ancorados. Daguerreótipo de um mundo primordial, há muitos azuis atrás.
A boundary between high, lighter-coloured terrain and darker lowland area on Titan (European Space Agency).
[Adenda] E não é que o pessoal da ESA e da NASA especula que poderá tratar-se, realmente, de algo semelhante a uma antiga linha de costa?!?
sábado, janeiro 15
data files: Titan#2
ESA: Registo da conversão em som audível de alguns ecos recebidos pelos radares da Huygens, durante os últimos quilómetros da sua descida para Titan.
À medida que a sonda se aproximava do solo, declive e intensidade aumentavam vertiginosamente.
sexta-feira, janeiro 14
data files: Titan#1
Pelos vistos não mergulhou numa superfície líquida, como se achava que poderia acontecer. É inacreditável pensar naquilo que estamos a ver e ouvir, de um mundo a mais de uma hora-luz de distância.